A GUITARRA DE CARLOS PAREDES
Na hora
em que as nuvens
se aconchegam para dormir:
vem aí a noite...
vem aí a noite...
-sussurra a mãe das nuvens
no céu já a perder o azul
que empurra a brisa
e depois de juntá-las
num cantinho do poente...
vem aí a noite
vem aí a noite...
suspira a guitarra
em tom leve e quente
e Carlos Paredes
abraçado ao vento
com dedos de natal
fresquinho , inocente,
no céu agora escuro
do teatro cheio.
As pessoas choram
por dentro do peito
Alguns olhos perlam
de suavidade
enfeitam o palco
daquela harmonia.
É o Carlos Paredes
-diz a mãe ao seu menino –
Sabes? -
O ouvido infantil
apercebe enfim
o que os dedos fazem
como correm ao longo
da guitarra
a caminho da felicidade.
E a mãe com seu menino
muito abraçado a ela
num momento único
indizível
pintainhos enfiam-se
debaixo da asa
da galinha mãe
e a guitarra pia, assobia
geme, a guitarra chora
de contentamento
e um sopro, uma asa
arrebatada ao vento
um estremecimento
marulhar do lago
onde as libélulas geometrizam
ascendem à luz
agitam bandeiras
em ponto de cruz
a guitarra imita
a voz das crianças
voz celeste de harpa
na serra amarela.
São lírios, são folhas.
é o Carlos Paredes
cabelo grisalho
esbracejar de brisa
Ao longe uma luz acende
e outra e outra
vem aí a noite
vem aí a noite
e a mais das vezes
é o Carlos Paredes
que fica no tempo
e que nos recorda
a infância perdida,
vem aí a noite
vem aí a noite
suspiros de prata
beijinhos de oiro
uma lagartixa
a perder-se ao sol
a escutar Paredes
e agora é tarde
perdeu-se na sebe
não sabe do seu
buraco de chão
para pernoitar…
vem ai a noite
vem aí a noite
com as mãos carinho
e a face ternura
e o pano desce
sobre Carlos Paredes.
Vem aí a noite
fuji abelhinhas
fuji joaninhas
espigas de milho
lá em baixo cantam
no verde lençol
é a guitarra em mãos geniais
vem aí a noite
vem aí o dia
é o Carlos Paredes
que não foi embora
sua melodia
que ri quando chora
Fernando Morais
in “CANÇÕES PARA
ANTHERO”
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