quarta-feira, 25 de março de 2015

Onde estás, Pai?


e tivemos de engolir o choro dos que acreditam
e de mentir que a vitória vinha aí…
que o Povo ia enfim ser Povo
e que dele tudo havia de esperar
no comboio da Fraternidade radiosa
lançando novelos de fumo branco…

Era assim…
Estou aqui Pai! Já cheguei!
- Vamos fazer a festa, filho…
- Estou aqui, MÃE. Aqui estou!
- Ó meu querido filho, que vens tão magrinho!...
- Estou aqui GAIA, minha Gaia da petizada feliz.
- Vamos fazer a Festa –
A festa, a festa, a festa, Vamos???
E vieram os votos e vieram os foguetes deles e apanhamos
as canas.
E vieram os senhores para a televisão.
Tudo muito estudado, muito medido, muito aperaltado
como num caixão que vai a enterrar
com toda a cerimónia…
Um caixão com um corpo hirto, gelado, lá dentro.

Onde estás, Pai?
Onde estás, filho?
Onde estamos nós?
Que Portugal é este?
enriquecemos todos tão depressa, tão depressa,
que até metemos nojo a nós próprios.

Que foi feito da minha Gaia?
o que foi feito de nós?
“Olh’ó diabo! Olh’ó Tal e qual!”
Vamos fazer a festa? Vamos?
silêncio
não há festa!
mas dou 50 contos para cortares a tua Oliveira.
mas dou 50 contos para cortares a tua Oliveira.

e depois? e o azeite?
vou comprá-lo a Espanha?

Fernando Morais

in “Um Estalo na Modorra”

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