quarta-feira, 25 de março de 2015

GLICÍNIA


GLICÍNIA

É um rosto fechado a tua casa
Nem os lábios da porta se entreabrem
Nem sorriem seus olhos hialinos
Por mais que eu use o pó do teu caminho

Por mais que eu aprofunde essa vereda
E dela faça o álveo desta mágoa
A tua casa é concha de refúgio
Calcificou o caracol da espera

Mal deflagrou o pólen nos espaços
Emaranhou-se ao muro uma glicínia
Marinhou pelo mês de março fora
E em minha vez foi ver-te na janela

Na tua vez floriu em mil sorrisos
E sempre que aí passo lá me acena
A desdobrar-se em ânsias de infinito
Línguas de fogo a rescender a azul

Queria eternizar a primavera
E ser a tua rua para sempre

Anthero Monteiro
in “Canto de Encantos e Desencantos”

lido por David Cardoso

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