quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

VIVER, É LUTAR


VIVER, É LUTAR

Mar, sal, distância e preocupação,
homens lutando ao perigo indiferentes
lá vão lutando contra as correntes
ganhar sua vida, ganhar seu pão.

E lutando contra a Natureza
ei-los de correntes d’aço na mão
homens e forças no ganha-pão
ganho na certeza da incerteza.

Manhãs frias em partidas quentes
partidas de regresso sombrio
nos pólos, homens vencem o frio
no equador, as tardes ardentes.

Anos, meses, dias longe dos lares,
passado que se verá no futuro
rostos marcadas – fim prematuro
reveses são, das brisas dos mares.

Rostos tristes da triste fadiga
e nada há, que esta tristeza mude
é vínculo da sua faina rude
é o tributo do custo da vida.

Muitos homens e um só viver
muitas vidas, uma só condição
todos lutam pelo ganha-pão
todos lutam para não morrer.

Lá vão eles sulcando os mares infindos
entregues aos destinos do seu destino
convertendo sonhos de menino
amargurando seus sonhos lindos.

Ora partindo para chegar
ora chegando para partir
ora esforçando por se rir
ora cantando para não chorar.

E quantas vezes – ó vida cura
intrépido nos braços do mar
vêm os pescadores encontrar
nas águas frias a sepultura

Lá longe lutam enfrentando a morte
lá, onde só a coragem tem guarida
se vence a morte perdem a vida
se vence a vida tiveram sorte.

Barco ao fundo, destroços, tragédias…
luta que começa no continuar
e termina sem principiar
vidas que ficam nas águas gélidas.

Pátrias, bandeiras e línguas
estranhas, ingratas e diferentes
como ingrata é a vida das gentes
que nos mares remedeiam suas mínguas.

Unidos na mesma necessidade
prontos a socorrerem seja quem for…
não é sonhos que vivem é o amargor
da vida, da dura realidade.

Homens que aparentam setenta anos
já nada fazem do que faziam
já nada valem do que valiam
marcados estão por sonhos insanos.

Mas não têm setenta, na verdade
têm cinquenta, não fiques aturdido
vê nele um digno vencedor vencido
vê nas suas rugas marcos de saudade.

Sempre, sempre e cada vez mais sempre
todo o que vive tem que lutar
viva na terra ou viva no mar
vive para lutar eternamente.

Que lute, se é lei da vida lutar
mas que lute de enxada na mão
ponha de lado espingarda, canhão…
e lute para viver não para matar.

Manuel Maia
in “A Voz do Meu Pensamento”

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