sábado, 3 de janeiro de 2015

A VOZ DUM HOMEM



A VOZ DUM HOMEM

Que não me doam as mãos
quando bato na vulgaridade
que não me doam os pés
quando calco a parvalheira.

Há muito que a esperança ardeu numa fogueira
há tanto tempo que a bondade se enganou
na porta em que bateu
e era a derradeira.

Que não me canse de bradar
contra a opulência.

Que não me canse de chamar as coisas
por seu nome
que nunca o desamor esteve tão vivo
nem as manhãs de lixo tão na moda.

Que nunca me doa a pena
pela verdade do bem que a todos vale
que nunca a voz do poeta, enfim, se cale
e que as folhas do livro se desprendam da lombada
e vão por esse mundo fora verdejar
a mocidade enganada.

Que nem o mau tempo me incomode
que nem o temporal me impeça de escrever
que enquanto houver a santa liberdade
a voz de um homem não há-de morrer.

Fernando Morais
in “O Comércio de Gaia”

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