A CEIA DE NATAL
De um pirilampo fiz a lua-cheia;
do pecado, a esperança renascida.
Fiz um presépio com três grãos de areia,
que foi cenário e palco de uma vida.
Da minha fé fiz manto guarnecido
de retalhos de lã cortada a sesgo,
e de um madeiro tosco e carcomido
fiz um berço de palha e musgo seco.
Ali iria romper uma alvorada
tão límpida e serena, como um sino,
anunciando ao mundo ser chegada
a hora de nascer o Deus-Menino.
Marcado p’la pobreza, mal chorava,
Jesus bebeu no seio de Maria
um fio de leite, apenas, que brotara
das migalhas que a Virgem não comia.
De pétalas de flor escorri sumo
macio e leve; do pólen, a geleia;
de uma gota de chuva, espremi néctar
que lhe dei a beber durante a ceia.
Natal 95
José Cúcio
in “Memorial do Mar, da Raiva e da Paixão”
lipo por António D. Lima
Sem comentários:
Enviar um comentário