POEMA DE AGRADECIMENTO À CORJA
Obrigado, excelências.
Obrigado por nos destruírem o sonho
e a oportunidade de vivermos
felizes e em paz.
Obrigado pelo exemplo que se esforçam em nos dar
de como é possível viver sem vergonha,
sem respeito e sem dignidade.
Obrigado por nos roubarem.
Por não nos perguntarem nada.
Por não nos darem explicações.
Obrigado por se orgulharem
de nos tirar as coisas por que lutámos
e às quais temos direito.
Obrigado por nos tirarem até o sono.
E a tranquilidade.
E a alegria.
Obrigado pelo cinzentismo,
pela depressão,
pelo desespero.
Obrigado pela vossa mediocridade.
E obrigado por aquilo que podem
e não querem fazer.
Obrigado por tudo o que não sabem
e fingem saber.
Obrigado por transformarem o nosso coração
numa sala de espera.
Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias
um dia menos interessante que o anterior.
Obrigado por nos exigirem mais
do que podemos dar.
Obrigado por nos darem em troca
quase nada.
Obrigado por não disfarçarem a cobiça,
a corrupção, a indignidade.
Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade
e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.
E pelo vosso vergonhoso descaramento.
Obrigado por nos ensinarem tudo
o que nunca deveremos querer,
o que nunca deveremos fazer,
o que nunca deveremos aceitar.
Obrigado por serem o que são.
Obrigado por serem como são.
Para que não sejamos também assim.
E para que possamos reconhecer facilmente
o que temos de rejeitar.
Joaquim Pessoa
lido por Onofre Varela
Sem comentários:
Enviar um comentário