terça-feira, 25 de março de 2014

POEMA DE AGRADECIMENTO À CORJA



POEMA DE AGRADECIMENTO À CORJA
           
Obrigado, excelências.

Obrigado por nos destruírem o sonho
e a oportunidade de vivermos
felizes e em paz.

Obrigado pelo exemplo que se esforçam em nos dar
de como é possível viver sem vergonha,
sem respeito e sem dignidade.

Obrigado por nos roubarem.
Por não nos perguntarem nada.
Por não nos darem explicações.

Obrigado por se orgulharem
de nos tirar as coisas por que lutámos
e às quais temos direito.

Obrigado por nos tirarem até o sono.
E a tranquilidade.
E a alegria.

Obrigado pelo cinzentismo,
pela depressão,
pelo desespero.

Obrigado pela vossa mediocridade.
E obrigado por aquilo que podem
e não querem fazer.

Obrigado por tudo o que não sabem
e fingem saber.

Obrigado por transformarem o nosso coração
numa sala de espera.

Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias
um dia menos interessante que o anterior.

Obrigado por nos exigirem mais
do que podemos dar.

Obrigado por nos darem em troca
quase nada.

Obrigado por não disfarçarem a cobiça,
a corrupção, a indignidade.
Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade
e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.
E pelo vosso vergonhoso descaramento.

Obrigado por nos ensinarem tudo
o que nunca deveremos querer,
o que nunca deveremos fazer,
o que nunca deveremos aceitar.

Obrigado por serem o que são.
Obrigado por serem como são.
Para que não sejamos também assim.
E para que possamos reconhecer facilmente
o que temos de rejeitar.
           
Joaquim Pessoa
lido por Onofre Varela 

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