NADA
Nada,
Pode mesmo não ser, nada,
Ou então ser um grito,
Um suspiro, sem razão,
Um rio seca que nunca
Cantou as suas águas,
Ou apenas, um rio alagado,
A transbordar de mágoas!
Nada,
Pode ser um mar de vagas revoltas,
Maré cheia de dores e iras incontidas,
Ou apenas, uma ou duas vagas soltas,
Arrastando consigo saudades consentidas,
Pela inquietude das areias espraiadas,
Esperando quem sabe um dia,
Serem encontradas e entendidas!
Nada,
Pode ser um olhar cheio de imenso vazio,
Uma palavra enorme sem sentido,
O débil pulsar de um corpo que se entrega frio,
Num gesto já gasto e desprendido.
Pode ser gorjeio que deixou de ser harmónico,
Seiva de beijo à deriva no tempo perdido,
Abraço estreitado mas tão ausente e lacónico.
Nada,
Pode ser tudo que temos ou não,
Depende do acontecer, ou não acontecer;
Do silêncio cúmplice e brilhante de um olhar,
Da suavidade de um gesto,
Do toque suave mas quente de uma mão;
O nada, contudo, pode ser tudo,
Eis a questão!
Alice Queiroz
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