quinta-feira, 27 de março de 2014

NADA



NADA

Nada,
Pode mesmo não ser, nada,
Ou então ser um grito,
Um suspiro, sem razão,
Um rio seca que nunca
Cantou as suas águas,
Ou apenas, um rio alagado,
A transbordar de mágoas!

Nada,
Pode ser um mar de vagas revoltas,
Maré cheia de dores e iras incontidas,
Ou apenas, uma ou duas vagas soltas,
Arrastando consigo saudades consentidas,
Pela inquietude das areias espraiadas,
Esperando quem sabe um dia,
Serem encontradas e entendidas!

Nada,
Pode ser um olhar cheio de imenso vazio,
Uma palavra enorme sem sentido,
O débil pulsar de um corpo que se entrega frio,
Num gesto já gasto e desprendido.
Pode ser gorjeio que deixou de ser harmónico,
Seiva de beijo à deriva no tempo perdido,
Abraço estreitado mas tão ausente e lacónico.

Nada,
Pode ser tudo que temos ou não,
Depende do acontecer, ou não acontecer;
Do silêncio cúmplice e brilhante de um olhar,
Da suavidade de um gesto,
Do toque suave mas quente de uma mão;
O nada, contudo, pode ser tudo,
Eis a questão!

Alice Queiroz

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