NA URGÊNCIA DO HOSPITAL
Aqui à espera
nesta interminável galeria!
Paisagem soturna de muletas e bengalas,
cadeiras de rodas e macas
preenchidas por restos de vida que se lastima,
que geme,
que grita,
blasfema:
Destroços,
sombras de gente que apela,
que implora,
suplica…
em vão.
Tarda o alívio pressentido no
aparecimento de alguém que socorra,
que olhe,
que pare, simplesmente,
a escutar…
Aqui em pé
neste desumano corredor!
Panóplia de enfermos cansados,
corroídos pelo sofrimento e
a baloiçar entre a vida e a morte.
Seres doridos,
olhos em alvo e alma em chaga,
corpos moídos,
contrafeitos, contorcidos,
enviesados,
deformados,
que me perturbam a vista e a sensibilidade…
… e a animada galhofa
de risonhas criaturas de colorida roupagem
— batas azuis, amareladas e brancas,
tons claros como a saúde,
como o ar livre e o sol —
que se cruzam ofegantes,
esbaforidas,
a transpirar habituação
e indiferença.
Aqui em pé
neste tugúrio sombrio!
Como os outros,
à espera,
à mercê de alguém
que enxergue na lista o meu nome
e se disponha a chamar-me!
11 de Novembro de 2013
Miguel Leitão
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