O ESCRITOR
Hoje tornei-me num escultor
Por força do meu amor
O cinzel vou manobrar,
Mas há um pincel para pintar.
Uso também a pá e pica
E na minha alma a penica
Dos neurónios e neutrões, há uma
Montanha aos trambolhões
Que pretendo trabalhar
Com o cinzel para cinzelar
E o pincel para pintar.
Caminho ao encontro desse monte
Levo a tela e aguarela,
E também uma tinta
ressequida.
Mas o pincel não pinta nada,
A tinta está estragada
E faço uma montanha parida.
A montanha cinzelada
Tem lindas enseadas
Com arvoredo luzidio
E no sopé corre um rio
De água apressada
E no fundo maior
Toma banho a rapaziada
Que tinham jogado bola
E deixaram a um canto a sacola
Da lide escolar
Enquanto eu pintor
E por força do meu amor
Continuo a cinzelar e a pintar
A minha alma está engalanada
Limpa e asseada
Por esta natureza colorida
De que me posso queixar ó vida?
Que eu não tenho a escolher
E para terminar, não é só cinzelar e pintar
Mas sim: também escrever.
E se possível até morrer.
João Bernardo
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