quinta-feira, 23 de maio de 2019

MENINO SONHADOR



MENINO SONHADOR

De ti, Sebastião, menino sonhador,
herdamos o cavalo derrubado em Alcácer,
levantamo-nos de novo, carregamos caravela,
empunhamos a cruz e fomos à vela mundo fora.
Não viemos embora.
Dominamos Ormuz, almoçamos no Irão,
ceamos na Índia, chegamos ao amarelo e lavamos os pés,
continuando a sina,
dormimos na China em lençóis de seda,
corremos Vera Cruz de lés a lés
e colhemos ouro no sertão,
carregamos o sonho, alargamos ambição,
regressamos a Lisboa sem nada na mão
e de madrugada empunhamos a espada
fizemos Abril em Maio de ilusão
fez-se nevoeiro escondendo teu sonho
rei sonhador com sonho de menino,
que transformou Portugal
em Portugal pequenino.

De ti, Sebastião, rei sonhador
herdamos a espada com lamina de papel
corte sem fio, fio sem gume,
lamina temperada em fogo sem lume,
mãos sem nada, dedos sem anel
ir sem vir
perdido em nevoeiro de Alcácer Quibir
escondeste teu sonho, sonho de pequenino
ficou Portugal em corpo de menino.

De ti, Sebastião,
menino sonhador
herdamos a ilusão
dum Portugal maior!

Vem Sebastião, menino desejado
descobre-te do nevoeiro e traz o cajado
há gente que chora, gente que parte,
gente que sai, sonho que se esvai,
rei sonhador, ganha a batalha
faz do teu sonho, o sonho de sempre
lança uma semente que à pátria valha 

Angelino Santos Silva
in “Coletânea Galeria Vieira Portuense 2015”
lido por Maria de Lourdes Ferreira

Sem comentários:

Enviar um comentário