quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

A PEDINTE FELIZ



A PEDINTE FELIZ

O dia (fim de tarde) estava frio!
Não havia uma única cadeira vaga na pastelaria.
Falava-se alto e o ruído era aumentado em muitos decibéis pelo
tilintar das chávenas que as empregadas manuseavam.
A mulher esquelética que acabara de entrar carregava às costas,
na ponta de um pau, um saco de serapilheira e nas mãos mais uns
quantos sacos de plástico. Neles certamente transportava todos os seus
haveres e sabe-se lá quantos segredos!
Não se lhe podia ler a idade. Tanto podiam ser 30 como 300 os anos
que arrastava consigo.
Dirigiu-se ao balcão e pediu que lhe dessem um pão! A empregada
meteu umas quantas carcaças num saco de papel que ela se apressou a
guardar num dos seus sacos de plástico!
As pessoas que ocupavam todas as cadeiras da pastelaria, certamente
ocupadas com outro tipo de preocupações como o modelo do carro
que gostariam de comprar ou o destino das férias do próximo Verão,
não deram pela felicidade que aquela mulher sentiu no preciso
instante em que recebeu apenas alguns pães!
A felicidade pode ser medida em meia dúzia de carcaças - pensei!

Cândido Arouca
in “Escolhi ser Feliz”
lido por Graça Silva

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