A PEDINTE FELIZ
O dia (fim de tarde) estava frio!
Não havia uma única cadeira vaga na pastelaria.
Falava-se alto e o ruído era aumentado em muitos decibéis
pelo
tilintar das chávenas que as empregadas manuseavam.
A mulher esquelética que acabara de entrar carregava às
costas,
na ponta de um pau, um saco de serapilheira e nas mãos mais
uns
quantos sacos de plástico. Neles certamente transportava
todos os seus
haveres e sabe-se lá quantos segredos!
Não se lhe podia ler a idade. Tanto podiam ser 30 como 300
os anos
que arrastava consigo.
Dirigiu-se ao balcão e pediu que lhe dessem um pão! A
empregada
meteu umas quantas carcaças num saco de papel que ela se
apressou a
guardar num dos seus sacos de plástico!
As pessoas que ocupavam todas as cadeiras da pastelaria,
certamente
ocupadas com outro tipo de preocupações como o modelo do
carro
que gostariam de comprar ou o destino das férias do próximo
Verão,
não deram pela felicidade que aquela mulher sentiu no
preciso
instante em que recebeu apenas alguns pães!
A felicidade pode ser medida em meia dúzia de carcaças -
pensei!
Cândido Arouca
in “Escolhi ser Feliz”
lido por Graça Silva
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