quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

PORTO D’OUTRORA


PORTO D’OUTRORA

No granito duro, cinza,
descendo até ao Douro
ergueu-se a Villa
cercada de barcos obreiros
onde o peixe bulia,
onde os produtos da terra
estendiam as suas cores,
os intensos cheiros
nos açafates empilhados.
Gente de sotaque fechado,
coração cheio,
ajuda a atracar
com mãos de paz,
a proa no cais das saudades.
Nas cabeças os cabazes,
nos pés descalços a ligeireza
de quem precisa ganhar
o pão nosso de cada dia.
Avé Maria, Avé Maria,
dizem os sinos às Trindades,
persignam-se as fressureiras
preparando as miudezas
na Rua do Sol,à tardinha.
Os gordos galos das cercanias
baloiçam na giga de vime
a caminho dos mercados.
Carros de bois chiando
poisam frente a S. Bento,
toros de pinho descarregados
levados pelo trem de ferro
a caminho da Europa.
O Porto era um frenesim,
barulhento, colorido,
agradecendo a Deus
o caldo do fim do dia.

Maria Olinda Sol
in “Coletânea Galeria Vieira Portuense 2017”

Lido por Alcino Amado 

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