VINICIUS DE MORAES
A
maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se
ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida
humana.
A
maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo,
o que
não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.
O
maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se,
o ser
casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada
triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo
que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que
são o património de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras
do alto de sua fria e desolada torre.
PROCURA-SE
UM AMIGO
Não
precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimento, basta ter coração.
Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia,
de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto dos ventos e das canções da
brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não
ter esse amor. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam
consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.
Não é
preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão.
Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso
que seja puro, nem que seja de todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um
ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande
vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo
deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o
imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não
puderam nascer.
Procura-se
um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo.
Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das
recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para
contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das
realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças
de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva,
de se deitar no capim.
Precisa-se
de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas
porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para
não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata
nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a
consciência de que ainda se vive.
Lido por
José Carlos Costa
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