O PESO DA PAISAGEM
Escuta, como se fossem
nódoas no olhar,
Os defuntos acordes da
sombra.
Enche a planície de um
silêncio frágil, glabro,
Como se fosse o
plano-sequência de ausentar-se
Dos émulos da paisagem,
dos ecos, das arestas
Urdidas por dentro, das
intonações de si mesmo,
Do mundo dito em
desluzidas e ocas metáforas.
Calca os torrões e
circunvaga pelas ervas da biografia.
Quase como quem caminha
E rasga o mapa represo da
solidão.
Perscruta o som de bronze
das palavras, a sua carnação
De estátuas nas
adjacências doutras estátuas,
Retira-lhe peso, alisa-o
até que seja sopro
Nas vértebras noturnas do
vento.
Sob o círculo ileso de
riscadas sílabas de aves
Aproxima-se dos
mecanismos das migrações
Estendidas sobre a tarde,
Submerge no corpo do
estio, fendido nos tumultos
Da cal nos hortos de
arrabalde, frutificados e completos.
Ao rés do eixo da
indivisa velocidade
Do por dizer nos cós das
páginas
Está um gato da cor do
sul
Que se lhe situa ao
diante dos dedos
E o faz deslizar para um
sono alheio
Sobre a cartilagem
frondosíssima do horizonte.
Luís Filipe Pereira
in “A Arte pela Escrita nove - colectânea de prosa e poesia”
lido por Dionísio Dinis
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