MEA CULPA
Ontem, na Feira da Ladra,
comprei um pouco de tudo:
à Marta, comprei o corpo,
ao Manel, a consciência
barata,
e ao Zé, seu silêncio mudo.
Era tudo o que precisava
para viver um pouco!
Porém, agora,
como já estou farto
do corpo da Marta,
mandei-a embora.
E ontem, aquela que foi para
mim
símbolo sexual,
hoje não passa dum farrapo humano
feito mísero animal.
O Manel, muito ciente
do seu papel,
(embora inconsciente)
lá anda de lado para lado
ao sabor dos caprichos
das gentes com dinheiro.
Quanto ao silêncio do Zé,
esse, comprei-o para toda
a vida.
Jamais quero que alguém saiba
que comprei o corpo da
Marta
para lhe extorquir a alma
e vender ao diabo.
Jamais quero que alguém
saiba
que Manel é um inconsciente
porque eu lhe comprei a
consciência
para satisfazer meus
caprichos.
Jamais quero que alguém
saiba
aquilo que fiz, e pensei,
aquilo que fui, sou e o
que serei.
O silêncio do Zé é muito
precioso!
É das coisas que para mim
tem mais
importância.
Por isso, eu o comprei
para que jamais alguém
saiba a verdade,
seja qual for a
circunstância.
Quantas Martas, quantos
Manéis e quantos Zés
rastejam diariamente a
nossos pés
prestando homenagem ao
nosso dinheiro?
Quantos?
Nem eu sei, meu Deus,
pois eles são tantos
que me atrevo a dizer:
«Talvez o mundo inteiro!»
E a culpa de quem é?
Será da Marta, do Manel
ou do Zé?
Não. É minha e do
dinheiro.
Manuel Maia
in “A Voz do meu Pensamento”
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