sexta-feira, 19 de agosto de 2016

FALA-ME DE ABRIL


FALA-ME DE ABRIL

Fala-me de Abril
Conta-me como foi em mil
Essa longa Noite desesperada
Por sombras negras dominada
Que espalhou o luto sem tréguas
Numa "Nação Valente e Imortal"
Conta-me quantas "lágrimas salgadas"
Banharam os rostos de Portugal
Pelos heróis torturados no Tarrafal
E por aqueles que foram lutar
Para além deste Mar, sempre Mar
Cansado de tanto esperar
Por um dia novo que haveria de chegar…

Mas conta-me como foi esse despertar
Que libertou gente aprisionada
E desceu à rua tão povoada
Há tanto ávida de gritar...

Conta-me o que jamais foi ouvido
"que uma arma foi calada por um cravo"
Pois ninguém teria acreditado
Se em Portugal não tivesse acontecido.
Lembra-me como foi esse dia
Que sem sabermos era desejado
A mim que nada entendia
Quando se ouviu na telefonia
Dizer que um golpe d'estado
nos ia restituir a voz
Que alguém nos tinha tirado
E eu que ignorava tudo
E que o povo há tanto era mudo
Que entendia eu de Mudança
Se eu era apenas uma criança...

Fala-me de Abril
Conta-me como foi em mil
Esse "alvorecer"
Prometo ouvir-te com prazer
Para jamais esquecer
Que depois da escuridão
O Sol acaba por nascer.

Fátima Veloso
in “Para além do azul “

lido por Maria Manuel Rito

Sem comentários:

Enviar um comentário