terça-feira, 16 de agosto de 2016

FÁBRICA DUCO


FÁBRICA DUCO

Grande relógio na parede
sujo, conspurcado,

hoje estou atrasado neste serviço
que a Fábrica reclama
fábrica medonha, sáurio gigantesco
que a todos engole.

Nesta oficina, imensa, de Vulcano
o relógio põe-me os cabelos em pé

o pó das tintas espalha-se sobre nós
entra no pescoço, nas cuecas,
até debaixo dos braços
operários que somos deste forno
de grandes cubas cheias de produto.

A máscara que trazemos no rosto
faz de nós espécie de mutantes
de um filme de terror

somos monstros de pernas articuladas
que as botas são de aço e borracha...
as cubas têm 4 metros de altura e lá dentro
vive uma hélice cromada que cria mil infernos
ao girar
ela está ligada a um motor de 600 cavalos.
8.000 litros de tinta em cada cuba
são produzidos por dia e por operário

para que esta unidade industrial
dê milhões de lucro a uns senhores
desconhecidos, transparentes, invisíveis


Fernando Morais 

Sem comentários:

Enviar um comentário