terça-feira, 16 de agosto de 2016

DEPENDÊNCIAS


DEPENDÊNCIAS

Entro em casa devagarinho.
Já estás à porta à espera de um mimo
e não mais me largas!
Eu venho cansada, farta da vida lá fora,
não dás por nada
até eu me ir novamente embora.
Queres a minha total atenção
na cozinha
na cama
no salão...
Se me deito um pouco
para passar pelas brasas,
logo te enroscas em mim
me olhas assim
me lambes a cara
me cheiras o corpo
me buscas a mão...
Claro, sou tua, pois então!
Eu é que pensava que não eras tão dependente
quando te escolhi para viveres comigo
no meio de tanta gente.
Preparo-me para sair,
ficas suspenso
de olhar telepático, fixo em mim...
Porque me olhas assim
que me destróis?
Bolas, tenho de ir ganhar a vida p Vá nós dois!
Afinal onde está a tua rebeldia?
Preferia andar como o cão e o gato...
Não tenho sossego
com o teu apego!
Mas quando te vejo ronronar
no silêncio da casa deserta,
o meu instinto maternal desperta.
Passo-te a mão pelo pêlo,
abres os olhos sonolentos
saboreando o zelo do meu acto!
E logo mergulhas novamente num sono profundo
que mudou o meu mundo
no dia em que decidi ter um gato.

Maio 2013
Ana Margarida Borges
in “Já Não Moro Aqui”

lido por Manuela Caldeira

Sem comentários:

Enviar um comentário