terça-feira, 12 de julho de 2016

Há destes dias

Há destes dias,
Não sei se te acontece,
Em que nada,
Mas mais nada apetece
Senão sair desta
Condição estupidamente descontente,
Deste existir assim, a ser gente,
E ganhar
Cauda e pêlo e garras,
Sair por aí, ganhar asas
E ser o instinto do instinto de ser,
E nada, mas mais nada me parecer
Mais do que a simples coisa que é.

Há destes dias,
Não sei se os sentes,
Sinto-os eu,
Com um ranger de dentes,
Na carne
Das minhas Metafísicas doentes,
A infertilidade da impotente mensagem
Daqueles que pensam, que nunca agem.

XI.2000
Miguel de Azevedo
in “A Cavalo destes versos menores...” 
lido por M. Manuel Rito

Sem comentários:

Enviar um comentário