Sem título (141)
O sol da manhã Lurdes
É apenas um feixe de
raios no esquecimento de nós
São lassos os elos que
tenuemente urdimos
São crassos os erros que
vorazmente maquinámos
É todo o parco sonho a
esmaecer
E o sol faz coro na
tristeza que criámos
Nem dor nem lágrimas
Lurdes
Nem tampouco qualquer cruel
remoque
Nem o desgosto de não
saber de novo o nosso gosto
Nem a perdição de nunca
sabermos mais de nós
Nem o sol a saber nascer
sem saber de duas bocas unidas
Por saber unidos os
eleitos lábios
Os dias turbulentos
Lurdes
São dias iguais a dias
planos
Se caminhas por áleas de
madressilvas
Recorda que no deserto
dão-nos os cactos o aconchego
Não julgues perdido o
momento sublime
No destino encontraremos
a imagem sonhada
Vão díspares nossos
olhares Lurdes
Vai certo o dia a nascer
no horizonte
E ao meio-dia fechamos os
olhos no solarengo esplendor
Ao meio-dia partimos ou
ficamos tolhidos pela luz
No fim da jornada a cada
um o seu porvir
Porque somos de sóis
diversos
Nunca se faz tarde o
desencontro Lurdes
Do outro lado do espelho
fica o mar
Do outro lado de nós
resta apenas um eco
Do lado justo das coisas
vividas
Do lado que é só
lembrança
Nunca o desnudes de todo
Lurdes
Recorda sem amargura
Lurdes
Que o mistério de não
haver mistério algum
É deixar que a vida siga
sem suposições tolas
Dionísio Dinis
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