quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Sem título (141)


Sem título (141)

O sol da manhã Lurdes
É apenas um feixe de raios no esquecimento de nós
São lassos os elos que tenuemente urdimos
São crassos os erros que vorazmente maquinámos
É todo o parco sonho a esmaecer
E o sol faz coro na tristeza que criámos

Nem dor nem lágrimas Lurdes
Nem tampouco qualquer cruel remoque
Nem o desgosto de não saber de novo o nosso gosto
Nem a perdição de nunca sabermos mais de nós
Nem o sol a saber nascer sem saber de duas bocas unidas
Por saber unidos os eleitos lábios

Os dias turbulentos Lurdes
São dias iguais a dias planos
Se caminhas por áleas de madressilvas
Recorda que no deserto dão-nos os cactos o aconchego
Não julgues perdido o momento sublime
No destino encontraremos a imagem sonhada

Vão díspares nossos olhares Lurdes
Vai certo o dia a nascer no horizonte
E ao meio-dia fechamos os olhos no solarengo esplendor
Ao meio-dia partimos ou ficamos tolhidos pela luz
No fim da jornada a cada um o seu porvir
Porque somos de sóis diversos

Nunca se faz tarde o desencontro Lurdes
Do outro lado do espelho fica o mar
Do outro lado de nós resta apenas um eco
Do lado justo das coisas vividas
Do lado que é só lembrança
Nunca o desnudes de todo Lurdes

Recorda sem amargura Lurdes
Que o mistério de não haver mistério algum
É deixar que a vida siga sem suposições tolas


Dionísio Dinis

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