Ai, Margarida,
Se eu te desse a minha
vida,
Que farias tu com ela?
- Tirava os brincos do
prego,
Casava c'um homem cego
E ai morar para a
Estrela.
Mas, Margarida,
Se eu te desse a minha
vida,
Que diria tua mãe?
- (Ela conhece-me a
fundo.)
Que há muito parvo no
mundo,
E que eras parvo também.
E, Margarida,
Se eu te desse a minha
vida
No sentido de morrer?
- Eu iria ao teu enterro,
Mas achava que era um
erro
Querer amar sem viver.
Mas, Margarida,
Se este dar-te a minha
vida
Não fosse senão poesia?
- Então, filho, nada
feito.
Fica tudo sem efeito.
Nesta casa não se fia.
Álvaro de Campos
Lido por Maria Augusta
da Silva Neves
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