DESTA VARANDA O MAR
Desta varanda, o mar
é apenas um coração
que pulsa. Rouco, na
escuridão.
Diante do mar, o infinito
fica ali
ao alcance da mão.
Ao mar ainda
ninguém pediu
o registo de
nascimento.
Para vir a terra, o mar
não precisa
de passaporte.
Esta manhã, ao
levantar-se, o mar
esqueceu-se
de se pentear.
Preciso de uma chave que ara
o cofre onde o mar
guarda os seus segredos.
Para ler nas
estrelas, o mar,
de noite, pede
emprestados
os olhos aos navios.
Velozes, as ondas
procuram a praia: regressam
a casa?
Os barcos são aves
que perderam as asas.
Raso é o seu voo.
A saudade do cais não é de pedra,
é de água. Que o digam os olhos
dos que partem, dos que ficam.
Diz o vento
ao mar: sem mim
não podes voar.
Devolvi ao mar os búzios,
as conchas e os corais. Os filhos
são património dos pais.
As esculturas que a
água
esculpe na rocha
pertencem
ao museu do mar.
Para ser mastro de navio
precisas, primeiro,
de ser árvore.
O mar está
enfurecido: pediu
açúcar
e deram-lhe sal.
Pergunta ao mar se ainda
se lembra
que já foi rio.
O mar invade às vezes
a terra: procura os
peixes servidos
à mesa dos homens.
Vitorioso, o mar abraçou
a terra, vestiu-se de azul e encomendou
uma faixa branca – um colar de espuma.
Se eu fosse um coral,
pedia
ao mar
que me trouxesse ao
peito.
Disse a terra
ao mar: cala-te,
quero dormir.
Albano Martins
Lido por Eduardo
Roseira e Alzira Santos
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