ANUNCIAÇÃO
Quando
nas ruas não houver ciganos
Nem
árabes na praia sequiosa,
Nem
sereias no mar, nem uma rosa
Se
desfolhar nos dedos desumanos,
-
Quando as mãos brancas, rudes, que hoje afago
Destruírem
na praça estátuas falsas,
Quando
o vento varrer lajes descalças
Em
torno do meu lago,
Quando
o antigo jardim ficar desnudo
Tal
qual a serra agreste
Quando
o faquir rasgar a sua veste
De
púrpura e veludo,
E
quando o cisne em último bailado
Exausto
se prostrar,
E
a sombra e o seu exército pesado
Entrarem
no solar;
Ai!
quando as naus pela maré salgada
Se
afundarem com oiro, vinho e pão,
Quando
a volúpia não tiver estrada
E
a beleza e a mentira também não,
Quando
os lábios das virgens, porto em porto
Ao
vento e às nuvens não pedirem nada
(quando
a volúpia não tiver estrada!)
Ninguém
chame por mim, que estarei morto.
Pedro
Homem de Mello
in
“Poemas Escolhidos”
lido
por Lourdes Alegria
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