CARTA
A MÁRIO CESARINY NO DIA DA SUA MORTE
Hoje
soube-se uma coisa extraordinária,
que
morreste. Talvez já to tenham dito,
embora
o caso verdadeiramente não
te
diga respeito, e seja assunto nossos, vivo.
Algo,
de facto, deve ter acontecido
porque
nada acontece, a não ser o costume,
amor
e estrume; quanto ao resto
tudo
prossegue de acordo com o Plano.
Há
apenas agora um buraco aqui,
não
sei onde, uma espécie de
falta
de alguma coisa insolente e amável,
de
qualquer modo, aliás, altamente improvável.
Depois,
de gato para baixo, mortos
(lembrei-me
disto de repente
agora
que voltaste malevolamente a ti)
estamos
todos. A gente vê-se um dia destes por Aí.
Manuel António Pina
lido por António D. Lima
Sem comentários:
Enviar um comentário