A CRISE
O riso murchou nos olhos.
Anda no ar a certeza
de mil e muitos escolhos
nesta terra portuguesa.
Após cinquenta anos,
do mais escuro negrume,
eis de novo desenganos,
Portugal arde sem lume.
Grassa já o desespero,
onde busca o sustento?
Há clamor, desassossego,
eis de novo o tormento.
Pra onde foi o dinheiro?
o grito da nossa gente,
pede acto justiceiro,
castigo a dente por dente.
Pobre que rouba é ladrão,
mesmo que o roubo seja
a mira de um magro pão.
Porém, quem muito almeja,
rouba com habilidade,
chamam-lhe só um desvio…
e com tal impunidade,
olha-nos com desafio.
Os bancos, meio falidos,
pedem ajuda d’Estado
prós cofres desguarnecidos.
O povo desencantado
pergunta: e nós? E a luz?
A água e o aluguer?
Como arrastarmos a cruz
se uma doença vier?
Agora já se conhece
a força que o povo tem!
Se o seu braço lhe esmorece
não terá pão pra ninguém.
Assim vai acontecendo,
já a Nação se anula,
não corre o rio braçal
e o rico não acumula.
É só o que nos consola
nesta hora que vivemos.
A miséria nos desola,
não nos sentimos serenos
já perdida a confiança.
Mas o povo não tem culpa!
É a venal ganância,
que pertinaz se inculca.
Agora, patrão entende…
Um trabalhador mal pago
não compra; patrão não vende.
É La Palisse gravado,
assim ‘inda há de comer,
sozinho tudo o que tem,
até que possa entender
que justiça tarda, mas vem!
É hora! Ricos e pobres
formemos uma cadeira
com sentimentos mais nobres.
É urgente esta ideia!
É a hora de agirmos,
a Pátria por nós clama.
É o momento de ouvirmos
Viriato que nos chama.
Março. 2009
Maria de Lourdes Martins
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